A busca por produtos descartados em lixeiras americanas, conhecida como “dumpster diving”, virou febre entre brasileiros que encontraram nas redes sociais uma forma de compartilhar suas descobertas e faturar com a prática. Canais no YouTube e perfis no Instagram exibem verdadeiros tesouros encontrados no lixo, desde maquiagens e bolsas até móveis e eletrodomésticos em perfeito estado.
A youtuber Adeline Camargo, referência no assunto, atraiu uma multidão de fãs em um encontro recente no Parque Villa Lobos, em São Paulo. Ela sorteou entre os seguidores diversos itens garimpados em lixeiras americanas, evidenciando o fascínio que a prática exerce sobre os brasileiros.
“Os brasileiros ficam muito curiosos, porque os americanos esbanjam muita coisa, é um desperdício que te deixa alucinado. Tem muita coisa nova“, afirma Alessandra Gomes, que também compartilha suas aventuras no lixo em Massachusetts.
Legalidade e riscos da prática dividem opiniões
Nos Estados Unidos, a prática do dumpster diving não é considerada ilegal em muitos casos, mas a legalidade varia de acordo com as leis locais. Em geral, é permitido vasculhar lixeiras em áreas públicas, desde que não haja invasão de propriedade privada ou desrespeito a placas de proibição.
No entanto, alguns brasileiros já relataram ter sido detidos pela polícia durante a prática, o que levanta questões sobre os limites e riscos da atividade. André da Silva, que possui mais de 300 mil seguidores no Facebook, conta que já foi abordado pela polícia diversas vezes, mas nunca teve problemas maiores.
Do descarte ao consumo: a cultura do desperdício em questão
O sociólogo Jeff Ferrell, especialista no tema, explica que o dumpster diving é uma prática antiga nos Estados Unidos, impulsionada pela cultura do consumo e do descarte. “Quanto mais orientamos nossa economia em torno da produção e consumo de bens, inevitavelmente, mais resíduos produzimos“, afirma.
Para Ferrell, a popularização da prática nas redes sociais traz uma ironia: a busca por bens de consumo em lixeiras acaba reforçando o ciclo do consumismo. “Acho irônico que as pessoas estejam nessa busca por bens de consumo em lixeiras. Em outras palavras, elas estão tentando transformar o lixo de volta em um estilo de vida de consumo“, opina.
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Entre a necessidade e o sonho americano
Para muitos brasileiros, o dumpster diving representa uma oportunidade de adquirir bens que não teriam condições de comprar, além de ser uma forma de denunciar o desperdício e a desigualdade social. Alessandra Gomes, por exemplo, doa parte dos itens que encontra para famílias de imigrantes e utiliza o restante para consumo próprio.
“Não tenho vergonha nenhuma de estar dentro do lixo. Vim de uma família muito pobre, então, tudo que eu puder aproveitar, eu vou pegar mesmo“, declara.
A prática também alimenta o sonho de muitos brasileiros de imigrar para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Os vídeos que mostram a fartura de produtos descartados despertam o desejo de fazer o mesmo e encontrar no lixo a chance de prosperar.
Fonte: g1
